segunda-feira, 3 de junho de 2013



A realidade não usa qualquer adereço, não verte lágrimas de circunstância, limita-se a seguir à velocidade da luz sem desvios... Sem rota predefinida. A realidade não escolhe o momento, não segue qualquer cronologia. A realidade não perdoa. 

Atinge-te repentinamente quando trôpego cambaleias na sua direcção. Nesse momento a violência avassaladora do impacto deixa-te sem oxigénio, sem respostas. Mergulhado na situação limitas-te a reagir.

A realidade nunca poderá ser processada pela humanidade, quanto mais por um homem desgastado, cuja a coragem é um embuste. A sua velha fortaleza não é nenhum monumento à perseverança mas sim uma corrente que nega a fuga ao pesadelo em que vive. 

Um ultimo amargo trago. 

Cerra os lábios. 


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quarta-feira, 29 de maio de 2013

Loop

A ausência de um destino encontra-me sempre nos momentos mais vazios.  

Sem direcção, vagueio pelas ruas esperando que as horas tragam a noite e com ela a cegueira ébria que enevoa aquele lar que não é meu. Aquele buraco que me mastiga a garganta quando a dor me molesta os sentimentos, impedindo que grite.  

Ao acordar tento prolongar eternamente o momento em que ganho consciência de quem sou, desejando que a minha vida seja pesadelo de um outro desassossegado. 

A realidade fulmina-me antes que os pés toquem o chão, em volta da minha cama jazem  esboços de sonhos que em outros dias definharam ao acordar. Cerro os olhos e tento voltar a dormir... Mas a melancolia invade sofregamente o meu pensamento boicotando a vontade de viver.

Entorpecido... Não sei. Não sei quem sou. Não sei para onde vou... Não sei.

A ausência de um destino encontra-me sempre nos momentos mais vazios.  

Até amanhã.


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quinta-feira, 23 de maio de 2013

Porta trancada.



Acordo, anos depois, em frente à porta que eu mesmo selei numa noite coragem e angustia. Uma porta que me separa de um quarto onde não quis mais voltar. Divisão esquecida ao fundo de um corredor sem luz em que o estuque disfarça ulceras antigas na estrutura da parede.

Continua trancada, reflectindo a inabalável solidez que lhe permitiu resistir a arrombamentos de outros eus. Madeira à prova de sentimentos, onde as ilusões arremessadas encontraram um fim tão imediato como trágico.

A  textura da porta, tal como uma cicatriz, desencadeia em mim reminiscências passageiras que me afogam os olhos. Surge a suspeita... Some-se o desejo visitar o quarto interdito e entranha-se o fantasma que em iguais noites me afastou deste local.

Mas permaneci... Quero entrar.

Abro a porta e revelo que a tranca que hoje arrombei não tinha como missão esconder algo que me atormentara ou medo da dor... medo do amor. Era sim a barreira que me impedia de ser completo.


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terça-feira, 20 de julho de 2010

Sem pisa-papéis

As folhas em que escrevo teimam em voar assim que levanto a caneta, desaparecem janela fora não deixando qualquer rasto da sua curta existência.

Os esboços não passam de palavras nuas de sentimento que se revelam impotentes perante o vento da memoria, que leva para além do esquecimento folhas rabiscadas de vazio.

Assim é, desde que a dor me abandonou numa qualquer manhã de Janeiro levando com ela o pisa-papéis da tristeza.


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Perfeito.

por Anonymous Anónimo, a 4 de maio de 2011 às 18:56  


Deves ter deixado levar-se por esses ventos repentinos...
Não escreveste mais.
=(


já passou mais de um ano...still waiting


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quarta-feira, 5 de maio de 2010

Os peixes não voam!




Aqui dentro não serás mais que um peixe fora de água teimando voar... Acho ridículo o tamanho despego a uma realidade que não compreendes e ainda assim tentas alcançar. Provavelmente terás em tua posse um ego demasiado grande para um peixe só.

Assim que entras sentes a densa dor que respiro... Lentamente, a culpa e a vergonha invadem os teus pulmões, destruindo cada pedaço de cada célula do teu corpo ...

Ai estás tu, desprezível peixe! Sucumbes a meus pés em espasmos desesperantes, olhas o céu invejando os pássaros púrpura que sobrevoam o limiar da minha consciência... Nada farei por uma criatura ciumenta como tu, deixo-te desprezado esperando a morte enquanto te engasgas na realidade que os teus olhos vêem mas não entendem.

Não peixe, não te vou ensinar a voar!


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segunda-feira, 3 de maio de 2010

Consideração a mim mesmo.

Antes de voltar a escrever... uma consideração a mim mesmo.

Apago frases atrás de frases, apago parágrafos inteiros... sentimentos de autenticidade duvidosa que a censura do meu ego extermina no premir de uma tecla. Refugio-me em reticencias, quais gritos mudos abafados pelo medo de cair no ridículo... pelo medo de cair.

Do fundo da letargia, surge agora uma nova vontade de pegar nos destroços e voltar a erguer nova torre no local onde outras outrora foram erguidas...

Para tal, será necessário invocar a besta doentia que baila por entre as sombras mais negras da noite, aquele delicado e sádico ser que procura o cheiro do sangue onde se irá banhar.

Para tal será necessária a libertação do louco depravado que se masturba para cima das flores que oferece, infame desajustado que sonha perverter as mais inocentes e castas almas.

Para tal será necessário ressuscitar o poeta melancólico que apenas acredita no amor quando sente a dor que tal sentimento gera, o poeta que apenas lava a cara com o seu pranto.

É gente a mais penso eu... talvez noutro dia ... noutra noite


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apesar de uma leitura carregada e escura adorei o texto e a mensagem apesar desanimada fica a esperança de dias belos virão

obrigado


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terça-feira, 29 de dezembro de 2009

palavras começadas por D




Acordo sem coragem para olhar a depressão no espelho... afogo-me nos lençóis até perder novamente os sentidos. Não quero acordar. Não quero esforçar-me para me manter de pé... não quero sorrir... Não.

As horas passam enquanto fito o tecto que insiste em não cair e esmagar-me os sonhos... o sangue corre lento pelas veias... o ar entra e sai como se eu não tivesse morrido ontem.

Deixa o tempo passar que ele cura as feridas, dizeis vós... E o vazio? O vazio que aumenta a cada vez que inspiro, a cada vez que sonho, a cada vez ...

... a cada vez que Morro!



Parou de chover...

Resta o vento a dançar com as árvores semi-nuas que escondem o meu rosto no vidro da janela. Com os olhos ainda inchados digo bom dia á dor, pergunto-lhe se dormiu bem no meu peito, se não teve frio naquele enorme vazio.

O sol não tardará a nascer, um novo dia, uma nova ilusão que corrompe mente e corpo... que liberta o monstro em mim...


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uma linguagem que prende,fluxo leve e doce ,mas de um sentido tão frio não gostaria que meu filho escrevesse assim amargo com se cada dia fosse o carregar e o despojar de uma mortalha,sem sorriso sem beleza, escreve redondo num fluir que prende e que doi imensamente não queria ter um filho tão triste e tão namorador da morte, tão aprisionado no seu triste goismo de só se enxergar dentro ou fora de seus monstros...triste


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domingo, 27 de dezembro de 2009

Arriscar escrever... Arriscar sentir...

Deitado em cima de palavras que não consigo encaixar em frases, procuro entender o que me leva a perpetuar a repetição dos momentos em que a solidão me abraça.

Talvez seja melhor não escrever... Evitar que sejam em vão todas as linhas escritas sem paixão... Evitar que sejam falsos todos os textos em que é exaltado o amor que em mim não habita.

Mas hoje, decidi arriscar... Arriscar ver nascer o dia sem saber se o sol me virá visitar... Arriscar conhecer o desconhecido... Arriscar sentir o não sentido....

Arriscar escrever. Arriscar sentir.

Arrisco?


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Eu digo sim.

A vida por si é um risco! Aproveita.

E quanto às tuas palavras, mesmo sem paixão há sempre quem as goste de ler!

Kiss kiss


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sábado, 28 de novembro de 2009

pensei na morte.

E quando o tempo se arrastar até ao dia em que não existirá mais espaço para qualquer temor da morte, eu saberei que estou preparado para tudo o que daí advenha.

Será fácil a entrega do leme do navio ao acaso. Navio que ruma ao cais de um destino incerto, onde se escondem maravilhas que só o ser mais livre e mais puro pode um dia alcançar

E saberei, que daí em diante só a verdade terá lugar na minha vida, saberei que a sofrer não será mais que um verbo que apenas poderá ser conjugado no pretérito mais que imperfeito que todos os amores que viver até então.

O dia em que eu morrer, será o dia em que Eu darei inicio a uma nova jornada na memoria de cada um de vocês que um dia me conheceu.

E esta é só mais uma forma inútil de me despedir do mundo antes de tempo.


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Espero que estejas a pensar na morte "certa" :) *


só existe uma morte, e é aquela que é certa como destino


vamos todos morrer velhinhos, com 85 anos, com muitos netos e a rirmo-nos do Sporting-Benfica de 28/11/09. Não sejas tão Emo. A vida é simples, nós é que a complicamos.


Complicado?!? queres visão mais simples que aceitar a morte?


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segunda-feira, 14 de setembro de 2009

é de morte que escrevo

A verdade cai por terra... Já nem ela importa nem legisla nem nada, pois é de morte que falo.

Narro o deixar de existir para além da memória e do sentimento, pois é aí que o fatídico escorrer dos dias acaba por extinguir qualquer verdade ou mentira que pudesse significar algo mais que um ultimo suspiro.

É o extinguir de um fogo, que outrora brilhou mas agora não passa de cinzas entre corpos mutilados e quimeras incineradas. Não sobrou nada mais, todas as frases escritas foram também elas riscadas e apagadas e finalmente queimadas junto com todo o amor que eu guardava comigo.

Pode agora vir, inocente e triunfante, a noite. Para que possa finalmente dormir.