quinta-feira, 23 de maio de 2013

Porta trancada.



Acordo, anos depois, em frente à porta que eu mesmo selei numa noite coragem e angustia. Uma porta que me separa de um quarto onde não quis mais voltar. Divisão esquecida ao fundo de um corredor sem luz em que o estuque disfarça ulceras antigas na estrutura da parede.

Continua trancada, reflectindo a inabalável solidez que lhe permitiu resistir a arrombamentos de outros eus. Madeira à prova de sentimentos, onde as ilusões arremessadas encontraram um fim tão imediato como trágico.

A  textura da porta, tal como uma cicatriz, desencadeia em mim reminiscências passageiras que me afogam os olhos. Surge a suspeita... Some-se o desejo visitar o quarto interdito e entranha-se o fantasma que em iguais noites me afastou deste local.

Mas permaneci... Quero entrar.

Abro a porta e revelo que a tranca que hoje arrombei não tinha como missão esconder algo que me atormentara ou medo da dor... medo do amor. Era sim a barreira que me impedia de ser completo.


0 Comentários


>> Deixa um Comentário Aqui